O Rio de Janeiro que o turista não vê pois a mídia não mostra.

A minha experiência de moradora no Rio.

O mundo todo parece conhecer o Rio de Janeiro mesmo sem nunca ter pisado na cidade.

Seja através do Jornal contando desde Olimpíadas até tragédias e favelas. Seja pelos filmes e mais filmes ou pelas novelas de Manuel Carlos. O tempo todo, temos a imagem do Rio sempre presente.

Mas essa imagem é real? É tão lindo quanto se espera e tão perigoso quanto se diz ?!

O morador tem uma resposta e o turista tem outra.

E eu quero te contar a visão que eu tenho, nem turista, nem moradora, mas uma Curitioca da gema!

Aproveite a minha experiência e tire suas conclusões (e me conta depois)


O Rio de Janeiro que o turista não vê

Eu divido minha experiência no Rio em 4 fases: a turista, a moradora revoltada, a moradora adaptada e a moradora turista, (a melhor das quatro).

A turista

Conheci o Rio de Janeiro em 2007 durante um congresso da faculdade. Como universitária e brasileira, meu dinheiro era contado e logo percebi que o Rio era uma cidade cara!

O Rio de Janeiro que o turista não vê - turista
“Cristo redentor, braços abertos sob a Guanabara…”

Eu, Curitibana, senti um calor inesperado em pleno junho e paguei em uma refeição o equivalente a um mês de restauante universitário. O mais caro que já havia pago até aquela altura na minha vida.

A diferença  de custo de Curitiba e do Rio marcou tanto, que eu lembro do valor de cada coisa até hoje (memória de elefante).

A impressão que eu tive nessa época foi importante pois foi a primeira.

Lembro de ter achado a cidade muito linda! Percebi a grande diferença social convivendo lado a lado, descobri que o Rio era maior que a faixa de calçadão de Copacabana e que pegar onibus era um suplício.

(Calma leitor carioca, lembre-se que eu sai de Curitiba, um dos melhores transportes públicos do país e do mundo.)

A impressão foi boa, mas sai de lá certa de que só moraria no Rio se ganhasse o suficiente pra morar bem e manter aquele alto padrão que a cidade pede.

Anos se passaram, me formei.


A moradora revoltada

“Mãe, vou morar no Rio de Janeiro, você vai me visitar?”

Poucos meses depois de formada e em meio a uma das crises econômicas do nosso país eu recebi uma oferta de emprego irrecusável no Rio.

O Rio de Janeiro que o turista não vê - moradora revoltada
“Cidade maravilha do trabalho da beleza e do CAOS!”

A minha memória dizia “você precisa ganhar bem pra morar no Rio” mas a minha esperança de crescer na carreira e o apoio fundamental de amigos que estavam no Rio me fizeram acreditar e decidir ir! (Obrigada Alê, obrigada Kati, nunca vou esquecer o que vocês fizeram por mim).

Mas nem tudo são flores.

Eu fui assaltada no primeiro dia que pisei na cidade no calçadão de Copacabana, as 2 da tarde. Voltei pro apartamento e não sai mais dele até minha amiga chegar. Tava sim com medo.

Esse susto me fez cair na real, eu não estava no meu bairro Curitibano que, apesar de feio e sem calçada nenhuma (que dirá famosa), era mais seguro que qualquer calcadão de Copacabana.

Eu percebi que tinha que me disfarçar na multidão. Eu tinha que adquirir a malandragem carioca pra (sobre)viver.

Tornei-me observadora dos cariocas, fiz estudo social aplicadissímo.

Algumas coisas que aprendi foram: “Bolsa se usa transpassada no corpo, nunca a perca de vista”. “Tenha dinheiro na bolsa pra emergência”, “Nunca sente na janela do ônibus, sempre corredor”. ( Dei mais dicas dessas no post: O que fazer no Rio de Janeiro (+ de 50 dicas).

E por aí vai. Em pouco tempo eu estava adaptada.

Eu sei que meus amigos cariocas vão discordar pois eu sempre ouvia um: “Maíra é muito Curitibana mesmo” mas amigos e leitores acreditem, depois de observar e me misturar, eu nunca mais fui assaltada.


A moradora adaptada

Metrô Rio virou meu melhor amigo.

O Rio de Janeiro que o turista não vê - moradora adaptada
“É o rodo, cotidiano…”

Depois de um tempo aprendi diferenças sutis entre a cidade e me adaptei a cultura. Por exemplo:

É super comum alguém esbarrar com você na rua, e você dizer “desculpa” sem de fato ter provocado o esbarrão e sem nem ser ouvido.

É normal confidenciar algo com algum amigo e alguém que escuta dizer: “eu te ouvi falando e acho que vc ta certa fulana! Faz isso mesmo!”

A primeira atitude é considerada falta de educação em qualquer lugar, e muito comum no Rio.

A segunda atitude é normal no Rio, e é falta de educação em Curitiba, por exemplo, por ser tão invasivo.

Do mesmo modo que permanecer em silêncio em várias situações é falta de educação no Rio, mas em Curitiba é perfeitamente normal.

É respeitar o espaço do outro.


Leia mais sobre o Rio em: O que fazer no Rio de Janeiro – Mais de 40 dicas!


Entendem a diferença?

Aprendi a compreender a Cultura, a entender a origem e os motivos de cada comportamento.

Eu trabalhei em bairros super comerciais e dinâmicos, ricos, como o centro do Rio que é o centro histórico, e também trabalhei em regiões afastadas, como a Gamboa, que fica perto da central do Brasil e tem um passado histórico incrível, e também um certo descaso ao longo de anos.

Eu aprendi a caminhar por ruas com tudo que você pensar (de ruim), aprendi que a proópria comunidade se defende, e que tudo aquilo é uma mistura muito grande de sistema e de heranças históricas.

A Gamboa fica numa região de escravos e também de portugueses,era um lugar nobre e foi deixado ao descaso. Ainda assim, a herança de samba e culinária ficou. Você pode conhecer mais desse ambiente aqui no post da Natália do 360 Meridianos.

É aquilo, não justifica mas explica.

Assim a gente aprende a conviver melhor com o diferente. Foi uma lição linda que o Rio deixou e que faço questão de espalhar por aí.

Além disso, com a adaptação, passei a amar meu bairro carioca (Tijuca <3) e até hoje, eu me sinto em casa quando estou por lá.

O tempo passou mais um pouco e minha situação mudou completamente.

Perdi o meu emprego…


A moradora turista (a melhor fase de todas)

Com a demissão minha vida mudou, na verdade tudo mudou drasticamente naquela época.

Após quase 5 anos morando no Rio eu me vi fora da rotina maluca do Trabalhador-Brasileiro-Sofredor das 8h-17h.

O Rio de Janeiro que o turista não vê - moradora turista
“Rio, você foi feito pra mim”

Eu passei a trabalhar no blog em casa, fazia minha comida, corria regularmente no Maraca, Procurava emprego com fé, encontrava amigos, visitava pontos turísticos quando queria.

Eu não precisava utilizar transporte público no horário de pico, e só quem já pegou metro Pavuna ou desceu na Central do Brasil as 8h da manhã sabe o quanto isso é um alívio!

Para não me alongar: Eu passei a viver a cidade da melhor forma possível.

Ter uma rotina de trabalho que independe da estrutura da cidade para ir e vir (além de alimentação) e poder curtir o melhor do lazer no Rio durante a semana mesmo, longe do competido final de semana foi o melhor o Rio que vivi<3.

Não era e não sou mais turista e pude aproveitar isso. Disso e dos amigos que fiz, eu sinto saudades.


Mas é aí? O Rio é tudo isso mesmo?

A combinação de cultura, cidade visada e toda a história do Rio fazem da cidade um eterno ame/odeie.

É linda, é violenta, é abundante em natureza mas tem uma disparidade social que assusta.

E disso vai o meu conselho:

Aos Cariocas: a cidade é maravilhosa sim, mas não fechem os olhos para seus problemas pois isso não ajuda a resolve-los. Obsevem como são as outras cidades no mundo e no Brasil também, o Rio pode ser o melhor lugar do mundo pra alguns, mas não é perfeito.

Aos não cariocas: aproveitem a beleza e tudo de bom que a cidade tem e observe com compaixão as diferenças. Compreenda-a e deixe a sua experiência mais rica. Muito mais que Pão de Açúcar e Ipanema, há milhares de bairros e pessoas vivendo aquilo no dia a dia, nem sempre bom. É sofrido, é quente.

Eu sei que vivi o melhor e o pior e acredito que pude compreender essa cidade tão amada e tão complexa. Sugiro que você faça o mesmo.


Espero que tenham gostado desse tipo de post! Deixe um recado para mim contando o que achou!

E assine o Blog para mais posts como esse!

[optin-cat id=”5714″]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Receba nosso Guia de Viagem
Assine nossa Newsletter
Voltar ao Topo