O espírito do viajante e (daquele que ‘ousa’ em querer conhecer o mundo) se manifesta de diferentes formas mas ele sempre vai achar uma maneira de sanar suas necessidades.
E se esse espírito viajante não puder se satisfazer nos seus períodos de férias, finais de semana e viagens ocasionais, ele vai sentir necessidade de mudar. A vida, o trabalho, o que for. Ah vai!
Em alguns casos extremos, o espírito de viajante vai fazer da viagem o seu trabalho.
Vai sair do escritório, pendurar a gravata e sair em busca do que gosta.
Talvez seja tudo isso que fez com que o Felipe pedisse demissão e optasse por trabalhar num navio de cruzeiro.
Foram meses de uma experiência incrível por diversos países e continentes, e ainda tá longe do fim!
O Felipe trabalha na empresa de Cruzeiros Royal Caribbean, uma das maiores no ramo de cruzeiros turísticos. – São 25 navios na frota e atuação em 251 portos em 76 países, em 6 continentes. –
Ele conversou comigo sobre sua experiência no navio e todo o processo que o levou até lá, também me explicou o que o motivou a tomar essa decisão.
Vem comigo, vamos descobrir todos os passos e o que você precisa fazer para trabalhar nessa área também.
Quem sabe não é exatamente isso que você está procurando?
Pelo estilo de vida. Estava de saco cheio do escritório e do trabalho e a vida no navio é um grande atalho para quem quer viajar e conhecer novas culturas. (O Felipe nunca tinha feito um cruzeiro, trabalhar no navio foi sua primeira experiência).
No navio que trabalhei são 2400 passageiros e mais 800 tripulantes, dentre os tripulantes estão pessoas de 50 nacionalidades diferentes.
O aprendizado de conhecer tantas culturas e pessoas diferentes é muito diferente e rico.
Sim. Pedi demissão e tranquei a pós-graduação. Muitos me chamaram de louco. (Segundo ele, a melhor coisa que as pessoas podem fazer pra te ajudar a manter sua ideia é te chamarem de louco).
Estava num emprego bom, num cargo bom para a carreira e fazendo uma pós-graduação na minha área, mas precisava mudar alguma coisa porque a vida de escritório, fechado, não era pra mim.
Foi rápido. Acho que o processo todo foram uns 6 meses. Da decisão tomada até o embarque.
Saí do trabalho e me inscrevi nas agências, comecei a pesquisar tudo sobre o assunto.
Você pode se candidatar a trabalhos em cruzeiros de duas formas: Diretamente pela companhia, (o que é muito difícil ou impossível conseguir) ou por meio de agências. A segunda opção foi a que eu fiz e todo mundo faz.
No Brasil são cinco (5) agências, pelo menos que eu conheço. Três (3) em Curitiba, uma (1) no nordeste e uma (1) em Santos. A maioria delas trabalha para todas as empresas de cruzeiros, apenas uma trabalha somente com a MSC e outra somente com a Costa. (Você deve pensar nisso antes de se cadastrar).
Depois foi só enviar o currículo, em português mesmo, realizar um cadastro e esperar para a entrevista com agência.
Cerca de 1 semana ou uns 10 dias depois me chamaram para a entrevista, por Skype.
Somente nessa hora que você escolhe a área que quer trabalhar para ser direcionado pela agência.
Escolhi trabalhar no BAR. Com base em experiências de amigos e grupos de discussão de tripulantes pela internet dá pra se ter uma boa ideia de como é o trabalho em cada área. Esses grupos ajudam muito.
Assim, decidi que a área do Bar era pra mim.
A experiência é exigida para algumas vagas sim (como a de bartender) mas há outras em que não se exige experiência. Mas saiba que você vai ganhar menos, será um trabalho mais braçal mesmo.
A experiência exigida não é nenhum absurdo, é o mínimo de conhecimento na área que você está se candidatando. Trabalhei 2 anos em um hotel também, isso ajudou, mas não é exigência não.
Tranquila. As perguntas feitas servem para entender se você está preparado e para verificar se a vaga que você está pretendendo preencher está de acordo com o seu perfil mesmo. Se não estiver, eles podem sugerir que você tente vaga em outra área.
As perguntas foram: Qual a sua experiência na área e suas experiências de trabalho; Como aprendeu inglês? Porque deseja trabalhar a bordo?
Depois disso, a agência envia seu perfil para a companhia de cruzeiro e você aguarda para a próxima entrevista, que será diretamente com a companhia de cruzeiros.
Depois de um mês mais ou menos, fui chamado para fazer a entrevista com a companhia, no caso, a Royal Caribbean.
Nesse momento é que o nível de inglês será comprovado pois a entrevista é em inglês. Fizeram perguntas básicas sobre o cargo que eu queria. Quais os drinks clássicos de um bar, as bebidas típicas, como prepará-las…essas coisas, o mínimo!
Depois dessa entrevista cabe a companhia analisar quando e onde você vai se encaixar e isso depende da necessidade deles para aquele cargo, função e navio.
Também é obrigatório que se faça cursos de segurança. O STCW.
OBS: A maioria dos custos são pagos pela companhia de cruzeiro para a agência. O custo para o candidato será o curso de segurança.
STCW é um curso de segurança em navio básica. São 34 horas de curso divididas em aulas práticas e teóricas. (entre elas, pular de uma plataforma a 3m e subir em um bote estando na água). O objetivo do curso é preparar quem pretende trabalhar a bordo para lidar com situações de emergência em alto mar, conhecer a estrutura e organização de um navio.
Só se descobre depois, quando a vaga surge. É provável que hoje em dia a Royal não chame mais tantos brasileiros pois não fazem mais a rota pelo Brasil (há uma lei que exige que a grande parte da tripulação do navio seja de nacionalidade do país em que o navio irá atuar).
Eu fiz 4 rotas diferentes no período de Setembro a Março (mais ou menos).
A primeira Itália, Grécia e Turquia durou uns 2 ou 3 meses.
Depois viemos ao Brasil fazer a rota de Búzios, Ilha Grande, Ilha Bela, Santos e Rio de Janeiro, (com direito a ano novo em Copacabana), essa rota foi de Novembro a Janeiro.
Depois fizemos Santos, Buenos Aires, Punta del Leste por um breve período.
Após isso foi a rota de Buenos Aires a Valparaíso, passando por Montevidéo, Punta Del Este, Punta Arenas, Ushuaia, Cabo Horn (conhecido como fim do mundo) e Puerto Montt.
Em abril retornamos para a Europa e passamos por Espanha, França, Malta, Montenegro, Croácia e Eslovênia. Ou seja, muitos lugares e países.
Todos conseguem ter tempo pra sair e conhecer os locais, mesmo que seja rápido.
Também há a opção de trabalhar como guia nos passeios em terra, ou seja, acompanhando os turistas e curtindo o passeio. Consegui fazer isso em Punta Arenas, conheci uma reserva de pinguins e leões-marinhos na Península Valdez.
A maior desvantagem é trabalhar todo santo dia, sem nem unzinho dia de folga, durante seis, sete, oito meses. Além disso, sua realidade não permite ir num cinema quando quiser, sair com os amigos, assistir a um show, um evento esportivo… Então você tem uma grande restrição de liberdade. Dependendo da sua função, o dia a dia pode ser MUITO cansativo, fisicamente e psicologicamente.
No setor de entretenimento ou na parte administrativa/financeira. O setor de atividades do navio parece ser muito interessante. Algumas companhias não permitem estrangeiros nessas atividades, mas a Royal sim! Por sinal, fiz um teste e fui aprovado para o setor financeiro. Na metade do meu segundo contrato eu já devo assumir a nova função.
SIM! Há sim! A fama é de que brasileiro não gosta de trabalhar, e brasileiro não gosta de obedecer ordens. No navio as ordens devem ser seguidas ou você está encrencado. MUITAS pessoas foram demitidas enquanto eu estive embarcado.
Se te dizem para não beber, não beba. Se dizem que o máximo permitido é uma cerveja, então beba apenas uma. É isso, seja discreto. Há uma hierarquia e regras, basta segui-las para não ter problemas.
Também estamos “mal-acostumados” com a CLT, e no navio o trabalho é intenso, diário e por muitas horas. Se você ficar doente, terá medicação e acompanhamento médico a bordo, mas não receberá pelos dias que não trabalhar. Não é que eles descontem do seu salário. Oras, se não trabalhou, porque vai receber? É perfeitamente lógico e justo. Mas brasileiros acham um absurdo. É isso que quero dizer com “mal-acostumado”.
Foi ótima. Minha família apoiou totalmente, acharam legal, diferente. Meus amigos também. Alguns acharam loucura, por ter trancado a pós e pedido demissão de um bom emprego, mas todos apoiaram.
Acho que nada. Eu tive um bom tempo pra conversar com várias pessoas que já trabalhavam em navios, principalmente nos grupos de Whatsapp e Facebook. Então já fui sabendo basicamente o que esperar. Mas não adianta: você pode ter todas as informações, mas pra saber MESMO como é, só estando lá e vivendo essa realidade.
Pergunta difícil. Acho que só me arrependo de ter me envolvido com algumas pessoas lá dentro. Vida de navio não é fácil, tudo é muito intenso e as coisas acontecem (E MUDAM!) muito rápido. Creio que o único arrependimento foi ter feito algumas coisas e tomado algumas decisões de forma precipitada. Como eu disse, tudo muda de uma hora pra outra, pessoas novas chegam, pessoas vão embora… Esse primeiro contrato serviu pra aprender essa dinâmica, e agora me sinto mais maduro pra lidar com algumas situações lá dentro.
Isso é muito particular. Eu resolvi largar tudo e embarcar nessa porque percebi que não estava feliz com a minha vida. Crescendo na carreira, propostas de trabalho, pós-graduação (MBA)… Todos estavam felizes por mim, menos eu. De quê adianta?
Mas pra quem quer ir morar fora, por exemplo, trabalhar em navios pode ser uma ótima alternativa. Não existe a preocupação de ter que procurar um lugar pra morar, e o custo de vida é praticamente zero.
Foi muito bom voltar desse primeiro contrato, uma sensação ótima de dever cumprido, porque não deixa de ser um grande desafio. Muita gente não consegue, desiste no meio do caminho, percebe que não é isso que quer pra vida, enfim.
No primeiro mês, me senti de férias, revendo a família e amigos, matando a saudade de todos, indo no cinema, no estádio…matando a saudade de tudo, na verdade. No segundo mês já bate um tédio. A gente se acostuma com um ritmo acelerado, ter obrigações todos os dias, então acaba estranhando e enchendo um pouco o saco mesmo.
Meu próximo contrato vai ser num dos maiores navios do mundo, sendo que o itinerário é só no Caribe.
Quando resolvi ser tripulante, decidi que faria isso por 5 anos e depois escolheria um lugar do mundo, dos que eu tivesse conhecido, pra morar. Depois desse primeiro contrato, avaliei isso e continuo com a mesma intenção. A vida a bordo vale a pena, mas é cansativa e restritiva (por mais contraditório que pareça, já que conhecemos vários lugares do mundo), então não quero fazer isso por mais tempo do que esses 5 anos.
O Felipe tem 29 anos e é Administrador por formação, se viu inquieto na área em que estava trabalhando, sufocado pelo ambiente de escritório. Apaixonado por Curitiba, entusiasta do poker, amante do futebol e morando abaixo do nível do mar cerca de 10 meses por ano. Já teve a oportunidade de conhecer quase 30 lugares diferentes pelo mundo e está cumprindo seu segundo contrato, dessa vez, pelo Caribe.
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Muito interessante , carreira á bordo .
Comissário e vendedor , Área que estiver por alguns anos ....
É bem por ai William! Essa é a ideia. Tem muito a abrir mão mas também muito a ganhar. Já tá considerando essa vida pra você?
Muito bacana.
Tenho um tempo já, que venho amadurecendo a idéia de tentar esse ramo.
Mas, o que me prende, é a língua inglesa. Nunca tive facilidade de aprender o inglês.
Que interessante essa entrevista, adorei saber da experiência do Felipe!
Eu até já pensei em algum momento trabalhar em navio, mas a vida tomou outros rumos. Acho uma boa maneira de trabalhar viajando, apesar de ser bem puchado a vida a bordo! :)
É, eu concordo com vocE, é uma boa forma e como toda escolha há renuncias, mas ainda assim, acho super positivo!